Todo mundo sabe que o universo compartilhado da DC se formou aos trancos e barrancos. Na pressa em alcançar o mesmo sucesso da Marvel Studios, atropelou as coisas e lançou a Liga da Justiça antes de produzir os filmes-solo de origem de todos os seus heróis e assim acabou desperdiçando o potencial para um grande filme com personagens em que o público se importasse (porque não basta conhecê-los de outras mídias, é preciso conexão com os retratados naquele momento), e daí deu no que deu.
Por conta disso, e do ~fracasso~ dos longas recentes estrelados por seus maiores heróis (Superman e Batman), todos os seus lançamentos chegam com certa desconfiança. Porém, este receio parece cada vez mais desnecessário, afinal, Mulher-Maravilha foi épico, Aquaman uma extravaganza aquática que fez muito dinheiro e agora, com Shazam! a DC parece ter encontrado a excelência: mesmo sendo seu longa mais “modesto”, é um dos melhores filmes de super-herói dos últimos anos.
Shazam! é um clássico da sessão da tarde instantâneo, no melhor sentido da expressão: é um filme família, cheio de coração, humor, ação, e também, por quê não? Sustos. Nada como ter um diretor vindo do terror, David F. Sandberg (de Annabelle 2) é muito bom. Para quem não conhece, narra a história do órfão Billy Batson, que um dia é escolhido por um mago e, ao dizer seu nome, recebe seus super-poderes, que são: a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio…sacou? S.H.A.Z.A.M!
Pelo fato de Billy ter apenas 14 anos e tornar-se um herói adulto, temos então uma mistura de Quero ser Grande (aquele clássico do Tom Hanks de 1988) com Superman (mais o da versão de Richard Donner do que a de Zack Snyder). Ver um super-herói fortão agindo com a mesma imaturidade de um adolescente não tem preço. Mas é arriscado cair apenas no ridículo também, e isso só não aconteceu por um motivo: Zachary Levi.
O ator, conhecido pela série geek Chuck (2007-2012) era até então um dos caras mais subestimados de Hollywood, aquele ator que faz a maior variedade de papéis, comédia, drama, musical (canta tanto que foi para a Broadway e recebeu uma indicação ao Tony, tutupom?) mas sempre como coadjuvante ou produções B, ele nunca tinha sido protagonista no cinema. Fez filmes da Marvel, foi o Fandral de Thor, e naquelas situações em que o mal vem para o bem, a eliminação rasteira de seu personagem em Ragnarok, onde não teve nem falas, serviu para deixá-lo livre para estrelar na DC.
Levi é a alma do filme, ele incorpora o ridículo e o transforma numa atuação digna e entusiasmada como poucos atores fariam. É preciso destacar também seu elenco de apoio, em especial Jack Dylan Grazer, que faz seu sidekick Freddy. O moleque já tinha chamado a atenção em It: A Coisa, agora prova que é um dos melhores jovens atores da atualidade, o garoto tem futuro.
As crianças do filme, em geral, estão ótimas, assim como o elenco adulto. Mark Strong como o vilão Dr. Silvana é outro que incorpora os clichês e arrasa. Afinal, o filme assume com orgulho exatamente o que é: uma aventura despretensiosa, por vezes brega, cheio de piadas de 5ª série, que existe para puro entretenimento: é para sair do cinema com um sorriso no rosto.
Shazam! tem um roteiro tão preciso que é efetivo com todos os públicos, atingindo em cheio tanto a nova geração, a criançada millenial, quanto os adultos saudosistas dos filmes de aventura que marcaram a infância. Não sei se é o melhor do estúdio, Mulher-Maravilha ainda mora em meu coração, e é muito diferente, mais grandioso, já Shazam! é perfeito na sua simplicidade.
DC, pode começar a produzir a sequência!
P.S.: a primeira cena pós-créditos é impagável, assistam.
cinelogin 