As Crônicas de Gelo e Fogo: A Dança dos Dragões

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ATENÇÃO: Este texto apresenta spoilers dos quatro primeiros livros da franquia (A Guerra dos TronosA Fúria dos Reis, A Tormenta de Espadas e O Festim dos Corvos). 

 

 

danca-dos-dragoes-capaAo terminar de ler A Dança dos Dragões – quinto volume da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R R Martin – é possível notar um certo padrão de composição narrativa empregado pelo autor ao longo da série. Martin intercala seus livros entre dois perfis: um que traz um desenvolvimento em ritmo frenético, culminando em reviravoltas drásticas que mudam completamente o cenário da história, e outro onde o ritmo é mais lento, com o propósito de fazer a história assimilar a nova situação desencadeada pelo volume anterior, bem como apresentar novos personagens e ambientes, ampliando cada vez mais o foco da saga.

Assim, tendo mantido o ritmo lento em O Festim dos Corvos, não é surpresa constatar que A Dança dos Dragões novamente coloca o pé no acelerador, resgatando a principal característica de A Tormenta de Espadas, onde o leitor é presenteado a cada virada de página com capítulos não apenas relevantes para a narrativa, mas também profundamente instigantes e interessantes, que praticamente não te deixam parar de ler (fiquei tão fisgado que terminei este quinto livro em menos de uma semana!).

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Daenerys e Drogon

Surpresa mesmo é ele conseguir repetir este efeito tendo que retratar uma quantidade de linhas narrativas bastante superior à que havia antes, num ambiente muito mais amplo, fazendo a narrativa do livro progredir num crescendo de tensão alucinante que torna este o livro mais consistente de toda a saga até aqui – apesar da minha preferência pessoal ainda permanecer com o terceiro volume. Outro ponto que vale destacar é o amadurecimento de Martin como escritor, que se desprende aqui de sua fórmula habitual ao diversificar os pontos de vistas sempre que julga necessário, não permitindo que se forme “zonas escondidas” da trama para o leitor, e nem se furtando de retratar cenas de batalhas que em outros volumes teriam sido apenas citadas (vide o caso de Robb Stark em A Fúria dos Reis).

Se beneficiando também por poder contar com os personagens mais carismáticos que foram deixados de lado no quarto livro, A Dança dos Dragões gira basicamente em dois núcleos principais: a disputa pelo domínio do Norte de Westeros entre Stannis Baratheon e Roose Bolton, bem como o papel de Jon Snow como comandante da Patrulha da Noite, e o governo de Daenerys Targaryen na cidade de Meereen e suas consequências para as demais cidades de Essos. Sim, meus amigos, o Jogo dos Tronos é levado definitivamente para além do Mar Estreito e das fronteiras dos Sete Reinos.

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Jon Snow e Fantasma

Dividindo um paralelo que denuncia a ideia que os dois serão personagens-chave na conclusão da saga (sem falar no simbolismo óbvio do título da série), tanto Daenerys quanto Jon se encontram em posições de comando e enfrentam dificuldades com inimigos que nem sempre agem às claras. Se em Meereen a Filha da Tormenta deve lidar com uma sociedade estrangeira com costumes que não a agradam – isso sem falar no inconveniente que seus dragões se tornam, crescidos e cada vez mais selvagens e fora de controle, na Muralha o bastardo de Ned Stark tem que se preparar para a chegada do inverno e dos temíveis White Walkers ao mesmo tempo em que abriga a presença do rei Stannis e sua corte – incluindo aí a perturbadora sacerdotisa Melisandre – andando sempre numa linha tênue perigosa. “A Patrulha da Noite não toma partido”.

Ao Norte da Muralha, Bran finalmente encontra o chamado Corvo de Três Olhos, depois de uma longa e árdua jornada, e conhece seu destino como vidente verde. Os capítulos que envolvem o jovem Stark, aliás, começam enfim a esclarecer todo o lado místico dos deuses do Norte, a relação dos filhos de Ned com seus lobos gigantes etc, o que se revela essencial para analisar os possíveis desdobramentos da história.

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Fedor

Segmentando seu retrato da situação política do Norte entre os capítulos de personagens como Davos e Asha Greyjoy, o livro encontra o maior expoente desta tarefa em Theon, que surge com uma personalidade inteiramente perturbada, marcada por profundos traumas causados pela tortura a que foi submetido por Ramsay Bolton/Snow, que desde já assume o posto de personagem mais cruel da história. Tendo sua dignidade completamente anulada ao assumir a sofrida identidade de Fedor, Theon em nada lembra o altivo e orgulhoso filho de Balon Greyjoy, mostrando inclusive um profundo arrependimento por suas ações passadas, o que surpreendentemente nos faz compadecer e mesmo simpatizar com o personagem, tão odiado anteriormente, numa mudança de perspectiva fascinante que lembra a que ocorreu com Jaime Lannister no terceiro volume.

Voltando nossa atenção para o Leste, acompanhamos a jornada de Tyrion ao longo do continente de Essos. Inicialmente apenas preocupado em fugir da irmã, o anão logo se vê envolvido na misteriosa conspiração arquitetada por Varys e Illyrio Mopatis, e acaba por descobrir segredos que podem mudar completamente a disputa pelo Trono de Ferro. Sempre sagaz e com a língua ácida, o anão jamais falha em descrever o que está a sua volta – sendo tanto verdade no que tange a ele próprio como ao panorama geral dos Sete Reinos. Tendo se tornado mais amargo, Tyrion acaba por reencontrar a doçura na simplicidade de uma inocente jovem que divide a mesma condição que ele.

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Quentyn Martell

Outra jornada rumo a Leste que acompanhamos é a do príncipe Quentyn Martell, enviado em missão secreta pelo pai para se casar com Daenerys e trazê-la com seus dragões para retomar o Trono de Ferro. Seus capítulos servem, juntamente com os de Tyrion e eventualmente outros personagens, para estabelecer ao leitor todo o panorama e a dinâmica existente naqueles novos cenários, o que se mostra vital para o núcleo de Dany finalmente se integrar ao restante da narrativa, perdendo aquele caráter de “história isolada” com o qual sofria desde o início da saga.

Mas a narrativa do livro não se limita somente a isso. A partir de certo ponto, a história de A Dança dos Dragões alcança cronologicamente o final de O Festim dos Corvos e aí passamos a acompanhar também o que acontece com Arya, Cersei, Jaime e Victarion. Isso acaba por dar um dinamismo ainda maior ao final do livro, já que as linhas narrativas se tornam inúmeras, mas sem jamais atrapalhar a fluidez da leitura.

Terminando num final que – não se enganem! – é muito mais aberto do que parece, este quinto livro coloca a saga num nível indiscutivelmente maior. O que está em jogo agora não se restringe apenas ao destino dos Sete Reinos de Westeros, mas sim daquele mundo inteiro.

E o Inverno já chegou.

 

Demais livros:

Livro 1: As Crônicas de Gelo e Fogo – A Guerra dos Tronos | Review

Livro 2: As Crônicas de Gelo e Fogo – A Fúria dos Reis | Review

Livro 3: As Crônicas de Gelo e Fogo – A Tormenta de Espadas | Review

Livro 4: As Crônicas de Gelo e Fogo – O Festim dos Corvos | Review

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