Invencível | Crítica

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Angelina Jolie pode até ser uma desprezível garota mimada minimamente talentosa, segundo alguns figurões de Hollywood, mas ela sempre consegue o que quer. Por isso, quando decidiu adaptar para as telas o best-seller de Laura Hillenbrand, um projeto ambicioso, pois conta a história de um atleta olímpico que acaba servindo na Segunda Guerra Mundial, sofre um acidente de avião, fica à deriva por 47 dias até ser resgatado/capturado pelos japoneses e sofre todo tipo de tortura até o fim da guerra, bem, uma história dessas requer muita auto-confiança do diretor para transpô-la na tela, e isso a spoiled brat tem de sobra, assim como pretensão.

O longa começa bem, com um belo plano aéreo dos aviões de guerra, e quando sofrem um ataque, não vemos uma sequência de ação eletrizante nos ares, como seria comum, mas sim a ação toda de dentro do avião, sob o ponto de vista dos atiradores e pilotos. Logo de início já percebemos quem é o protagonista, mesmo sendo um dos únicos atores desconhecidos do elenco, pois a câmera o persegue sempre e vimos logo no meio desta sequência um flashback contando sua infância, e depois como Louis Zamperini, um imigrante italiano nos EUA, tornou-se um atleta olímpico.

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Fiquei me perguntando a princípio o porquê da escolha de Jack O’Connell como protagonista, já que é um ator ainda desconhecido e foi cercado de outros mais famosos (como Garrett Hedlund), mas depois percebe-se que foi uma escolha acertada de Jolie, pois confere mais veracidade ao personagem, não o associamos a sua figura fora das telas ou a outros personagens. Aliás, a atuação de praticamente todo o elenco é admirável, a atriz/diretora conseguiu extrair o máximo dos atores e comprometimento na composição física dos personagens. A única falha de escalação foi a do sargento Watanabe, figura fundamental na história de resistência de Zamperini, mas teve uma interpretação caricatural do (não) ator japonês Takamasa Ishihara, que parece uma sargentona diva com uma tensão sexual em relação ao protagonista (não que isso não pudesse ter ficado bom).

A história de sobrevivência, persistência e redenção, como está no pôster, começa quando aparecem os flashbacks que intercalam a sequência de bombardeio aéreo no primeiro ato. O garoto rebelde (um carcamano na América) que por força do acaso – ou consequência de suas ações – acaba na pista de atletismo do colégio, e, dono de um grande talento, mais o apoio do irmão com suas frases de efeito “Um momento de dor vale uma vida de glória”, já dão sinais de que ele será capaz de suportar as maiores dificuldades. Sua relação com a religião católica, sempre observando com certo distanciamento e ceticismo as orações de sua mãe e as missas, pontua sua redenção à Deus no momento de dor em que faz uma promessa. O sacrifício faz parte do dogma católico, você tem que sofrer para provar sua fé. Não à toa o filme teve uma exibição especial no Vaticano.

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Uma pena que os flashbacks somem do filme, e tanto o personagem quanto os espectadores são massacrados com terríveis e exaustivas cenas de tortura e sacrifício, chegando ao ponto de tornar-se maçante ao invés de visceral, como claramente a diretora pretendia parecer. E dá-lhe trilha sonora crescente e piegas para enfatizar o quanto o personagem tem força para sobreviver, quase um Cristo, com a diferença que ele não está se sacrificando pela humanidade, e sim lutando por sua própria sobrevivência numa Guerra, que por mais que estivesse contra os Nazistas, os norte-americanos não são tão bonzinhos (ninguém é numa guerra), o Japão foi massacrado, milhares de civis perderam a vida, mas isso é mostrado numa sequência rápida, meio que para não dizer que estão sendo nacionalistas.

Louis Zamperini sem dúvida teve uma história fantástica de sobrevivência, principalmente quando perdoou todos os seus algozes e realizou então o sonho de correr nas Olimpíadas do Japão – aos 80 anos – mas o filme foca demais na tortura e deixa apenas nas entrelinhas sua motivação espiritual de sobrevivência, ficou diluído em meio a tanto sacrifício e talvez não seja percebido pelo espectador menos atento. Jolie tem talento, mas ainda há muito o que aprender, sua direção às vezes remete a Clint Eastwood, às vezes almeja ser Spielberg. É perceptível sua ambição de ser grande, mas para isso precisa de sensibilidade para descobrir o seu próprio estilo.

Cotação-3-5

Invencível (Unbroken)

Invencível - poster nacionalDireção: Angelina Jolie

Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, baseado no livro de Laura Hillenbrand

Elenco: Jack O’Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund, Takamasa Ishihara, Finn Wittrock, Jai Courtney, Maddalena Ischiale, Matthew Crocker, Vincenzo Amato, John Magaro, Luke Treadaway, Louis McIntosh, Ross Anderson, C.J. Valleroy, John D’Leo, Alex Russell, Jordan Patrick Smith, Spencer Lofranco, Stephen J. Douglas, Marcus Vanco, Dylan James Watson, Ryan Ahern, Ross Langley, Michael Whalley, Anthony Phelan, David Roberts, Sandy Winton, Jack Marshall, Sean McCarthy, Chris Ovens, Oliver Wright, Kuni Hashimoto, Shinji Ikefuji, Shinji Ogata, Taka Uematsu, Taki Abe, Matthew McConnell, Yutaka Izumihara, Chikashi Linzbichler, Masako Fouquet, Keiichi Enomoto, Jiro Funamoto, Hisa Goto, Katsuhito Nojiri, Katsuichi Shike, Atsuto Kitanobo, Shingo Usami, Hiroshi Kasuga, Ryuzaburo Naruse, Yoji Tatsuta, Allan Gibson, Travis Jeffery, Talia Mano, Savannah Lamble, Alice Roberts, Sophie Dalah, Morgan Griffin, Gulliver Page, Damien Bryson, Jesse Turner, Kristopher Bos, Geoffrey Evans, Brock Hasting-Booth, Nick Smith, Anthony Craig, Simon Noonan, James McEnery, Garrick Parkes, Tom Hobbs, Bangalie Keita.

Gênero: Drama/Guerra

Duração: 137 minutos

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