Mulher-Maravilha | Crítica

Setenta e cinco anos. Este foi o tempo que levou para que a história da primeira super-heroína dos quadrinhos ganhasse seu próprio filme. É claro que há 75 anos filmes desse gênero ainda não eram produzidos, mas em termos de comparação, o Superman, herói que foi criando apenas três anos antes da amazona, já ganhou seis filmes solo, além do protagonismo em sua batalha contra o Batman (que já possui sete filmes solo). Então por quê essa demora? Bem, ao assistir ao filme, que se passa em 1918, e vermos como as mulheres eram tratadas e como ainda precisamos lutar por igualdade, é fácil encontrar a razão.

Porém a espera valeu a pena, e chegou no momento certo! Mulher-Maravilha é tudo o que esperávamos da heroína, não só como ícone feminista, mas dentro do gênero já tão desgastado, se sobressai como um dos melhores filmes de super-herói já produzidos, ascendendo na trindade da DC ao lado de Superman – O Filme (dirigido por Richard Donner em 1978) e O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan, 2008). Nessa onda de heróis relutantes, sombrios, vingativos e cínicos, Diana chega lutando por um ideal de verdade, e pelo maior de todos: o amor.

Sem medo de parecer piegas, o filme abraça essa causa de passar uma mensagem de otimismo e compaixão pela humanidade, que é afinal a verdadeira essência do herói. E é essa honestidade em fazer um filme old school, despretensioso, engraçado e romântico, que o redime de qualquer pequena falha que possua (e ele tem algumas, mas são mais técnicas do que narrativas).

O longa começa com Diana (Gal Gadot) nos dias atuais contando sua história, e então partimos para Themiscira, a ilha das amazonas, um local mitológico criado por Zeus para proteger as mulheres que criou para ajudar aos homens, mas acabaram oprimidas. Diana é a única criança da ilha, e sua mãe, a rainha Hipólita (Connie Nielsen) lhe conta que a moldou no barro e Zeus então lhe deu vida, tamanha a vontade que ela tinha em ser mãe. Mas Diana desde pequena tem o impulso de ser uma guerreira, e mesmo contra a vontade da rainha, é treinada secretamente por sua tia, Antíope (Robin Wright), que é a general do exército de amazonas, e estão sempre à postos caso Ares, o deus da guerra, um dia retorne.

Este início é bem descritivo mas não perde  ritmo, e afinal quem não quer conhecer a origem da heroína? Poucos a conhecem. Corta então para Diana crescida, quando o espião Steve Trevor (Chris Pine), fugindo dos alemães, ultrapassa a barreira mágica da ilha e cai com seu avião no mar, sendo salvo por ela, que vê um homem pela primeira vez. A partir daí a ação de fato começa, primeiro na ilha, numa sequência fantástica de poder feminino lindamente filmada.

E Mulher-Maravilha é isso, uma sequência de hinos, que dão voz à representatividade, à diversidade, ao emponderamento, à mensagem de que com amor conquistamos igualdade e paz. Diana chega ao patriarcado sem ter a menor noção das convenções sociais da época, e com sua inocência (mas sem nunca parecer boba), ela derruba vários paradigmas e escancara para o público o quanto a mulher pode fazer tão bem quanto um homem, isso sem nem precisar de discursos ou bandeiras.

O fato de ter sido dirigido por uma mulher (Patty Jenkins), fez toda a diferença. Sem jamais sexualizar ou subjugar a personagem, ela soube mostrar Diana como a mulher que é; forte, idealista e cheia de ternura, e ainda dar espaço a uma história de amor deliciosa de se ver, cheia de humor, graças ao charme, carisma e talento de Chris Pine (realmente um homem acima da média), que fez de seu personagem um mix de Indiana Jones com Cary Grant, e Gal Gadot, que nasceu para viver a heroína, pois transmite com precisão e sem esforço tudo o que a Mulher-Maravilha representa.

O filme ainda conta com coadjuvantes ótimos, como a hilária secretária Etta Candy (Lucy Davis) e o grupo de mercenários que representam a diversidade, pois temos um turco, um escocês e um indígena norte-americano. No rol dos vilões, Elena Anaya, vivendo a doutora Veneno, captou a bizarrice da personagem sem transformá-la numa mera caricatura (talvez sua experiência com Pedro Almodóvar em A Pele que Habito tenha ajudado) e Danny Huston, sem dificuldade, juntou mais um vilão ao seu currículo.

Algumas resenhas por aí criticaram o plot twist do terceiro ato com a revelação do vilão, mas está totalmente coerente com a narrativa. Diana desde o começo está certa de que a grande guerra está sendo causada por Ares, e um confronto com ele é inevitável, mesmo que não tenha sido o confronto mais emocionante do longa. Os vilões deste filme são alegorias daqueles que até hoje provocam os maiores males do mundo, aqueles que estão por trás, se fazendo de homens “de bem”, maquinando conflitos para lucrarem e manterem-se no poder.

Por fim, Mulher-Maravilha é o filme de super-herói que o mundo precisa. Com sua mensagem positiva, sugere um outro olhar sobre o uso de nossa força e sobre o poder transformador da empatia e compaixão.

Cotação-5-5

3 comentários

  1. […] Quando cheguei na sala do cinema para assistir Liga da Justiça, me espantei, e até posso dizer que me emocionei, ao ver grupos de mulheres, garotinhas e até senhoras, chegando para assistir esse filme, algo que não se vê muito nesse gênero. Ok, mulheres são 50% do público do cinema, eu mesma vejo todos os filmes de super-heróis, dizer que esse não é o tipo de “filme de mulher” é mais um clichêzinho machista de m*, desculpem. Mas realmente havia algo de diferente na sala de exibição. E esse diferencial tem nome: o efeito Mulher-Maravilha. […]

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