Guerra Civil – Diferenças entre o livro, a HQ e o filme

*A primeira parte desse artigo não possui SPOILERS

“Guerra Civil”, o famoso embate ideológico e físico entre o Capitão-América e o Homem de Ferro já rendeu, e ainda renderá, muito para a Marvel. A edição em quadrinhos, escrita por Mark Millar e Steve McNiven em 2006 vendeu mais de 500.000 exemplares e representou uma mudança significativa no universo dos heróis da Casa das Ideias. Próximo ano a história deverá chegar às telas de cinema contando uma história bem diferente, mas que mantém o conflito entre dois dos principais membros dos Vingadores.

EM TEMPO: Leia nossa crítica do filme Capitão América: Guerra Civil

EM TEMPO: A Morte do Capitão América

Sendo conhecida por explorar bem comercialmente seu vasto material, uma adaptação em prosa da história que colocou heróis lutando contra heróis era quase inevitável. Assim, em 2014, Stuart Moore foi o responsável pela adaptação para o formato em prosa. O objetivo aqui é bem simples, não se busca inovar nada, apenas expandir o universo naturalmente limitado das HQs. Os característicos diálogos das HQs, embora bem presentes no romance, dividem o lugar com parágrafos descritivos, e cenas de ação contadas, em vez de vistas. Por esse lado, Moore faz um bom trabalho, porque embora este não seja um livro-sequência, nós já conhecemos aqueles personagens e tudo torna-se mais fácil de acompanhar.

Se você ainda não sabe do que se trata a história, aqui vai um resumão. Após uma trágica batalha envolvendo um pequeno grupo de heróis em busca de fama caçando vilões, uma explosão é responsável pela morte de centenas de pessoas, inclusive crianças. O governo americano reage rapidamente exigindo que todas as pessoas com superpoderes revelem sua identidade civil e que se registrem para que possam ser controlados pela S.H.I.E.L.D. A lei coloca dois antigos aliados em lados opostos: Capitão América considera a norma governamental uma afronta à liberdade individual, ao passo que Tony Stark julga como uma ação lamentável, mas necessária para evitar a clandestinidade dos heróis, que cada vez possuem mais descrédito com a população.

Quando o Homem Aranha chegou à cratera, percebeu a verdadeira extensão da devastação. Uma área que se estendia por um quarteirão e meio da cidade fora totalmente derrubada, reduzida a cinzas e poeira. Metade de uma escola estava de pé no limite da zona destruída. A outra metade estava incinerada, caída dentro da própria cratera.

Por se tratar de uma adaptação (e o próprio autor deixa isso claro “Um livro não é uma história em quadrinhos…”) algumas mudanças foram necessárias, entretanto, nenhuma delas foi significativa a ponto de modificar o rumo dos personagens e os acontecimentos da HQ. Pelo contrário, se a conversa que Susan Storm tem com Namor não ganha muito destaque nos quadrinhos, aqui é dedicado um capítulo exclusivo para isso. Outra modificação feita para dar ritmo ao contexto narrativo do livro foi em relação à Zona Negativa, a prisão criada por Reed Richards para manter os heróis presos, que se mostra bem menos confortável do que a vista na obra original.

Moore faz uma adaptação de leitura fácil, e embora não haja muito ineditismo, a experiência se torna bem positiva, ainda mais se levarmos em conta que em vários momentos do livros nos perguntamos em que lado estaríamos, qual dos dois Vingadores iríamos apoiar (o que é um ótimo feito, já que eu já conhecia o desenrolar de toda a história). E isso ocorre porque o livro não se prende a um ponto de vista, em um momento estamos de um lado, no momento seguinte estamos acompanhando o lado oposto, logo em seguida nos vemos presos às reviravoltas e por aí vai. Assim, personagens como o Homem Aranha, Mulher Invisível e Maria Hill ganham destaque em meio aos protagonistas.

Capitão baixou o olhar para encará-lo.
– O seu grande plano está me parecendo mais a Alemanha de 1940. O que você planeja fazer exatamente com quem não se registrar?
– Você não…entende – disse Tony, sem fôlego. Seu rosto ainda estava à mostra, o capacete cintilando azul em cima da testa.

Diferenças entre a HQ, o livro e a adaptação para os cinemas

 

*Se você ainda não leu o livro, ou a HQ ou ainda quer passar bem longe de qualquer informação sobre o filme da Marvel, pare a leitura aqui, uma vez que o texto contém SPOILERS.

Antes de comentar as mudanças que o filme terá em relação à HQ, e possivelmente ao livro, é preciso se fazer um breve resumo do porquê a Marvel escolheu Guerra Civil como inspiração para o último filme da trilogia do Capitão. A princípio o filme iria focar quase que exclusivamente na busca do Capitão pelo seu amigo Soldado Invernal, o que já havia ficado claro no fim do segundo filme. Este seria o filme em que teríamos a redenção do personagem antagonista. O objeto aqui era também já preparar terreno para que, futuramente, o Soldado Invernal pudesse assumir a identidade do Capitão América, como ocorre nas HQs, tendo em vista o fim do contrato do ator Chris Evans.

Pois bem, nessa versão o Homem de Ferro teria uma participação, mas nada demais, seria apenas um coadjuvante de luxo. Acontece que Robert Downey Jr. não aceitou muito bem isso, e exigiu uma participação maior (mais cenas, mais semanas gravando, mais dinheiro). Na época pegou tão mal que o chefe da Marvel Entertainment, Ike Perlmutter, quase excluiu a participação inteira do personagem de Downey Jr. Tentando acalmar os ânimos, aparece a Disney junto com Kevin Feige que tentam, a todo custo bancar a participação do herói no terceiro filme do Capitão. Logo em seguida é anunciada que a Graphic Novel Guerra Civil (em que o Homem de Ferro possui, obviamente um papel maior) seria adaptada aos cinemas, esse foi o meio encontrado para se chegar a uma harmonia de interesses.

A partir daí, os irmãos Russo tiveram que formular um jeito de unir o que haviam planejado pro personagem com o plot de Guerra Civil. Logo, é provável que muita coisa seja diferente, e que o que prevaleça seja a essência do embate ideológico liberdade individual X segurança. Acrescente-se a isso o fato de vários personagens não fazerem parte do acervo disponível pela Marvel, e outras dezenas que sequer foram incorporados no universo MCU.

HOMEM-ARANHA

Provavelmente o grande atrativo do filme. A verdadeira saga do aracnídeo para fazer parte dos Vingadores chegou até a virar meme e foi revestida de muitos boatos e incertezas. Até que no começo de 2015 a Sony e a Marvel chegaram a um acordo e o personagem teria uma nova história contada no MCU. Lá vem novo ator, novo uniforme e uma nova morte do tio Ben. Nas HQs o Homem-Aranha é essencial para trama, já que possui um reconhecido intelecto e já está na ativa há bastante tempo, o que faz com que ele seja um garoto propaganda da Lei de Registro ao revelar sua identidade secreta.

Lá pelas tantas ele muda de ideia e passa a apoiar o Capitão. Bem, a Marvel ainda não escolheu o novo ator pro personagem, mas está a procura de alguém bem jovem, que viva o herói nos seus 15-16 anos. A partir daí já dá pra perceber que muito de sua participação deve ser modificada, e talvez nem sua identidade seja revelada. Aliás, outro momento que deve passar longe das telonas é o uniforme tecnológico que Tony Stark desenvolve para Peter e que o faz, de fato, parecer uma aranha.

[ATUALIZAÇÃO] A Marvel confirmou o ator Tom Holland (O Impossível) como novo Homem-Aranha, prevalecendo assim a decisão da Sony que havia se interessado pelo seu teste. O ator de 19 anos estrelará ainda o novo filme do Aranha, que chegará em 2017 e será dirigido por Jon Watts (“Cop Car”).

Uniforme moderno com selo Stark de qualidade

QUARTETO FANTÁSTICO E X-MEN

Bom, esses daqui são meio óbvio. Por conta dos contratos feitos na década de 90, a Marvel não tem permissão para usar o Quarteto Fantástico nem os X-Men nos cinemas (aliás, nem mesmo a palavra mutante pode ser usada!). Se considerarmos apenas os X-Men, a perda é mínima, já que eles se declaram neutros na Guerra Civil e preferem não se misturar com essa gentalha (embora Tempestade, já fora do grupo dos mutantes, faça uma rápida aparição). Porém, o quarteto tem papel significativo, uma vez que Reed é o responsável pela criação da Zona Negativa, que irá manter os heróis presos, e o Tocha Humana junto com a Mulher Invisível também trocam de lado e representam uma importante ajuda ao Capitão América.

Ainda, Susan Storm é quem convence Namor a apoiar a causa do herói patriota, adicionando aí o vantajoso exército de Atlântida. Susan possui uma importância ainda maior no livro, e seu relacionamento com Reed e o consequente afastamento dela do Quarteto Fantástico a faz ter um destaque entre os personagens da história.

OS DEMAIS VINGADORES

A Marvel já confirmou uma cambada de heróis no filme, porém Thor e Hulk devem passar longe da adaptação. O primeiro por conta de sua trilogia própria que se encerrará com Ragnarok previsto para 2017, e o segundo porque, convenhamos, o lado que tiver o Hulk ganha! Tanto nas HQs quanto no livro, Hulk encontra-se banido do planeta Terra após a morte de dezenas de pessoas e vai parar num planeta longínquo, dando origem à história de Planeta Hulk. Já Thor, nas HQs e no livro encontra-se morto na mesma batalha com Ragnarok, acontece que no universo MCU as coisas acontecem em momentos inversos.

Porém, o acontecimento-chave da história envolve diretamente o deus nórdico. Tony Stark, precavido, recolhe um fio de cabelo do deus do trovão e faz um clone. Tido como uma arma secreta, o clone é uma verdadeira máquina de matar, e em uma das batalhas, é responsável pela morte de um dos companheiros do Capitão América, é esse fato que leva ao descontentamento de diversos personagens e os fazem repensar toda a situação. Isso deve ficar de fora do filme, porém, por ser uma reviravolta na trama, é provável que a morte seja adaptada, resta saber quem será a vítima.

Um oferecimento: Gloria Perez

SPEEDBALL E A SHIELD

Speedball é um dos super-heroís envolvidos na Batalha de Stamford, como ficou conhecido o incidente que dividiu os heróis da Marvel após a morte de cerca de 600 pessoas. Até agora não existe nenhuma informação oficial de que o estúdio contratou alguém parar viver o personagem, mas ainda é cedo também, tomem como exemplo o Homem-Aranha que estará no filme, mas ainda não foi definido seu intérprete. Existem algumas teorias de que Guerra Civil teá seu início contado na série Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. da ABC.Tudo começou em setembro do ano passado, quando o ator Fran Kranz tuitou o seguinte:

“Harpia. Robbie Baldwin. Shield. Em breve.”

Robbie Baldwin é a identidade secreta de Speedball. E alguns meses depois a série confirmou a participação da Harpia, outra heroína do universo Marvel que chegou a garantir o papel de regular na série após a aceitação de seu personagem. Fran Kranz deletou seu tweet na mesma hora, mas foi o suficiente pra criar esperança em muitos. Quem acompanhou a segunda temporada da série viu que atualmente existem duas “facções” dentro da S.H.I.E.L.D., uma que aceita bem os heróis e inumanos, e outra que acha que estes devem ser mantidos catalogados pelo governo evitando a qualquer custa o anonimato em nome da segurança. Pareceu familiar?

Oficialmente não há nenhuma ligação do ator com a Marvel

THE THANOS SITUATION

Quem acompanha a Marvel nos cinemas já sacou que o estúdio tenta a qualquer custo (mesmo que falhando às vezes) em manter o universo coeso, sempre preparando terreno para o futuro. Foi assim com os filmes individuais dos heróis que levou ao primeiro Vingadores e assim está sendo com os filmes da fase atual que apontam para Guerra Infinita, que deve ser o maior filme do estúdio já feito.

Mas o que isso tem a ver com Guerra Civil? Bem, a essência da HQ é não haver um embate herói X vilão. Em nenhum momento somos levados a ver o Capitão ou o Homem de Ferro como vilões, a discussão ultrapassa essas questões simplistas, tanto que você poderá trocar de lado em diversos momentos da saga. Porém, Guerra Civil não pode ser um filme isolado dentro do MCU, e já está sendo chamado de Os Vingadores 2.5, tamanha a sua importância. É bem provável que algo relacionado a Thanos surja lá no meio do filme, algo que não ocorre na HQ ou nos livros. A própria sinopse oficial leva para essa interpretação:

“Capitão América: Guerra Civil começa onde Vingadores: Era de Ultron  parou, com Steve Rogers liderando a nova equipe dos Vingadores em seus esforços contínuos para proteger a humanidade. Depois que outro incidente internacional envolvendo os Vingadores causa danos colaterais, o aumento da pressão política resulta na instalação de um sistema de responsabilidade e um conselho governamental para determinar quando solicitar os serviços da equipe. O novo status quo fragmenta a equipe enquanto eles tentam proteger o mundo de um novo e nefasto vilão“.

Anthony e Joe Russo (que irão dirigir os dois últimos filmes dos Vingadores) retornam nesse filme solo final do Capitão América com roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely. Capitão América: Guerra Civil estreia em 5 de maio de 2016 e até o momento estão confirmados: Chris Evans (Capitão América), Robert Downey Jr. (Homem de Ferro), Frank Grillo (Ossos Cruzados), Chadwick Boseman (Pantera Negra), Scarlett Johansson (Viúva Negra), Sebastian Stan (Soldado Invernal), Anthony Mackie (Falcão), Jeremy Renner (Gavião Arqueiro), Elizabeth Olsen (Feiticeira Escarlate), Daniel Brühl (Barão Zemo), Emily VanCamp (Agente 13), Don Cheadle (Jim Rhodes/Máquina de Combate), Paul Bettany (Visão), Paul Rudd (Homem-Formiga), William Hurt (General Ross) e Martin Freeman.

De que lado você está?

O livro Guerra Civil ganhou uma sequência, chamada “A Morte do Capitão América”. Clique para ler nossa review.