Lucy | Crítica

Desde sempre, Hollywood tem uma máxima: “Mulheres não servem para fazer filmes de ação.” Porém, no início dos anos 2000, filmes como Tomb Raider, estrelando Angelina Jolie,  Anjos da Noite com Kate Backinsale, Milla Jovovich em Resident Evil e Kill Bill com Uma Thurman tentaram alterar esse panorama, mas ainda sem sucesso. Tirando Kill Bill, os demais filmes, apesar de terem rendidos várias continuações, ficaram longe de ser aclamados pela crítica.

Então eis que recentemente tivemos uma nova geração de filmes de ação protagonizados por mulheres. Filmes esses que alcançaram enorme sucesso comercial. Temos a Jennifer Lawrence na série Jogos Vorazes, Shailene Woodley em Divergente e a própria Scarlett Johansson com muito destaque como a Viúva Negra nos filmes da Marvel e no cult Sob a Pele.

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Já que nenhum diretor americano tem coragem de produzir um filme de ação protagonizado por uma personagem feminina que não faça parte de uma grande franquia, coube ao francês Luc Besson quebrar esse “dogma”. E para isso ele escolheu uma das musas atuais do cinema, a bela e versátil Scarlett Johansson.

Em Lucy, Scarlett Johansson é apenas uma garota normal de intercâmbio em Taiwan, que. ao se relacionar com a pessoa errada, acaba sendo obrigada a se tornar uma mula. Ao transportar uma droga experimental em seu ventre, o pacote se rompe e o narcótico se mistura em seu organismo, lhe concedendo uma incrível evolução cerebral, que lhe dá poderes nunca antes vistos. Lucy então precisa descobrir um modo de se manter viva, enquanto pratica a boa e velha vingança.

Lucy é um filme simples, Luc Besson não teve a pretensão de fazer algo profundamente filosófico ou embasado em sérias teorias cientificas. É apenas um filme de ficção muito bem conduzido, com um roteiro bem comum, em certos momentos bastante didático, ótimas sequencias de ação e com um forte apelo feminista, sem que levante uma bandeira de militância ou sem soar apelativo.

Lucy 04O filme se segura quase que inteiramente na grande atuação de Scarlett Johansson. Ela está bem à vontade com a personagem e consegue mostrar sua evolução de forma gradual e orgânica. Compartilhando com o público todas suas descobertas e medos, ao deixar de ser uma garotinha assustada, que, ao passar por provações, vai ganhando confiança. Ao conseguir criar essa incrível sinergia com o espectador, faz com que não sintamos repulsa por seus atos frios e desumanos em diversos momentos.

Outro destaque vai para o coreano Choi Min-Sik, de Oldboy e Eu Vi o Diabo, que brincou de forma excelente com o clichê do traficante oriental exageradamente homicida. E, infelizmente, Morgan Freeman se mostrou apenas um coadjuvante de luxo que pouco se destaca, servindo apenas para dar mais importância ainda à personagem de Scarlett.

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Mas o que torna Lucy diferente de outros filmes de ação são justamente suas escolhas. Em determinado momento do filme, Lucy percebe que não precisa mais trocar tiros e dar socos em coreografias mirabolantes. E qual é a melhor forma de fazer uma tomada de ação sem o confronto? Besson apenas fez com que Lucy impeça os inimigos de atirarem ou os prenda no teto. Algo totalmente condizente com o andar narrativo do filme, com isso criando ainda mais empatia pela personagem-título.

Quando falo que o filme se sustenta graças a Scarlett e suas boas sequencias de ação, não é mentira. O roteiro, escrito pelo próprio Luc Besson, é extremamente superficial. Apesar de contar com todo um fundo cientifico, Besson nunca adentra inteiramente a teórica de utilização do cérebro e suas consequências em nossas vidas. O que acaba tornando algumas explicações totalmente didáticas, apenas para tentar convencer o público de que os poderes da Lucy são críveis.

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Um dos principais pontos de acerto do diretor foi sua escolha narrativa ao fazer Lucy comungar com o meio-ambiente ao seu redor enquanto desenvolve seus poderes. Ora utilizando de música pop/rock, ora música clássica para transmitir os sentimentos da personagem naquele momento. E contando com uma estética narrativa que remete em muito às histórias em quadrinho europeias, Besson conseguiu dar vida a uma das personagens femininas mais fortes desde a Noiva de Kill Bill, ao mostrar uma mulher que não espera por ser salva e nem está à procura de seu verdadeiro amor. Ela quer apenas garantir para si uma sobrevida, transmitir seu conhecimento adiante.

Assim como em Nikita: Nascida Pra Matar de 1990, e em O Quinto Elemento de 1997, o diretor francês continua com a sua sina de criar mulheres fortes que servem de exemplo de que as mulheres podem fazer as mesmas coisas que os homens e têm as mesmas escolhas. Além de jogar na cara de Hollywood a quebra de paradigma de que o cinema americano urgentemente necessita.

Cotação-4-5

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Direção e roteiro: Luc Besson

Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Choi Min-Sik, Amr Waked, Julian Rhind-Tutt, Pilou Asbæk, Analeigh Tipton, Nicolas Phongpheth, Jan Oliver Schroeder, Luca Angeletti, Loic Brabant, Pierre Grammont, Pierre Poirot, Bertrand Quoniam e Paul Chan,

Gênero: Ação/Ficção-Cientifica

Duração: 89 minutos

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3 comentários

  1. […] Quando você analisa como um todo a carreira de Scarlett Johansson, é difícil entender o que aconteceu com a atriz este ano. No Brasil, foram lançados cinco filmes em que ela está no elenco, todos eles no mínimo muito bons. Porém, ainda dentro desses cinco filmes, há três que merecem um destaque especial, tanto por sua alta qualidade quanto por sua temática. Sim, eu estou falando da trilogia informal formada por Ela, Sob a Pele e Lucy. […]

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  2. Gostei muito da crítica, só não concordo em resumi-lo a um filme simples. Consegui desentranhar algumas teorias explícitas que conduziram-no, do começo ao fim.

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